domingo, 28 de dezembro de 2014

Pousada Santa Maradona

Quão boba fui ontem quando mal iniciada a jornada cheguei a pensar por um momento que não daria conta do pedal até Montevideo! Tendo como confidente os meus botões, abri o jogo e revelei-lhes meu medo de não poder cumprir o roteiro de 7 dias. Me xinguei de pretensiosa, megalomaníaca e por aí afora, numa descabida crise de baixa autoestima. À medida que pedalava, contudo, meu temor virava pó de traque e mais confiante ficava de que iria conseguir, sim!! Tanto que ao final do dia nem mais lembrava das dúvidas matutinas. Bueno, como a pousada não serve desaiuno, vamos até a bizcocheria Giannin, situada na esquina da calle principal de Punta del Diablo. Biscoitos recheados com doce de leite, empanadas com diversos recheios, medias lunas e postres divinos exibem-se tentadores à vitrine. Não há como não se render à pastelaria uruguaia! O café entretanto não faz jus aos excelentes petiscos. Saímos do balneário e pegamos a Ruta 9, pedalando durante 3 horas os 40 km até Castillos onde fazemos parada de 2 horas no restaurante (também hotel) de nome Mi Gente. A comida, honesta, é razoável. Mas os preços estão salgados. Já se foi o tempo que nosso real comprava muito com pouca moeda! Ange, Jo e Fatima comem assado de tira, eu pescado com salsa de camarão. Nem pensar em comer carne, considerando que se tem ainda mais 25 km de pedal debaixo dum sol causticante! O vinho, em copo, é muito ruim, tanto que só bebo 1/3 de seu conteúdo. Em compensação, a sobremesa, pudim de claras com cobertura de doce de leite é de comer ajoelhada! Terminada a refeição, deixamos a pacata Castillos e entramos na Ruta 16. De pequena extensão, apenas 10 km, a rodovia, sem acostamento, é bem pouco segura porque apresenta pesado tráfego. Diversos carros e motos tiram, sem piedade, fininho de nós. Tô percebendo que não é só no Brasil que há psicopatas do volante! Deveras tenso o pedal. Eu rezando pra que logo alcancemos a Ruta 10, onde a 16 termina, porque tô crente que, nessa, sim, há acostamento. No entanto, triste engano o meu: também sem acostamento, a 10 revela-se, aleluia, bem mais tranqüila devido a pouca circulação de veículos. Ufa, que alívio! Poderíamos ter ido pela Ruta 9 com acostamento até Montevideo, nosso destino final. Acontece, porém, um pequeno e bom detalhe: a Ruta 10 acompanha  o contorno da bela costa uruguaia e daí nem preciso explicar porque esta rodovia foi a escolhida, né? Começa então a soprar o temível vento sudeste que nos obriga a fazer força pra vencê-lo muito embora seja plana a estrada. O esforço despendido é semelhante ao de subir ladeiras. Conquanto tenhamos rodado somente 6 km, pedalar com intensidade de vento, em torno de 20 a 28 km/h, dá a impressão de que se pedala bem mais! Chegamos esbaforidas ao Parque Nacional de Cabo Polônio, mas nem dá pra descansar porque temos de prender as bicis no estacionamento já que não é permitida a entrada delas na vila. Subimos no caminhão que, após 20 minutos de sacolejos sobre a areia fofa, nos deixa no centrinho de Polonio. Carregando os alforges (pesados ai ai ai) andamos sobre as dunas, afundando toda hora na areia fina e fofa. Lá pelas tantas, Jô e Ange, menos hábeis em caminhar nesse tipo de terreno, pedem encarecidamente por um táxi ou carrinho de mão, hahahaha. Na finalera da Playa Sur, eis-nos enfim, na pousada Santa Maradona, cujo nome dispensa explicação quando descobrimos que o dono, Willi, argentino da gema, é torcedor do Boca. Branca, bem rústica, a pousada num desleixo gostoso oferece redes e cadeiras ao ar livre. Seu filho, Nicholas, nos oferece água de poço artesiano enquanto o pai prepara um café – brasileiro, frisa ele – e indica um prato com bolo. Arbustos ao redor da pousada fornecem aprazível sombra. Nosso quarto, no piso superior, tem 3 camas de solteiro e uma de casal.  Sobre caixotes de frutas pintados de cores vibrantes, usados como mesinhas de cabeceira, velas e isqueiros, já que luz elétrica aqui no hay!! Fizemos o seguinte acerto, no início da viagem, nós as 4: quando uma dupla dorme em camas de solteiro, dia seguinte, ou melhor, noite seguinte, dormirá o outro par na de casal. Assim, hoje, eu e Fátima ocupamos camas de solteiro. Aleluiaaa!!! A bem da verdade, não gosto de dividir quarto com outra pessoa, o que dizer então de cama. Estou me superando nesta viagem, podicre!!! O banheiro é qualquer coisa de bizarro!! Há dois vasos sanitários, assim, pipis e cocôs podem ser compartilhados em dupla, hahaha. O chuveiro não passa dum balde bem grande, pendurado no teto, com uma enjambração de ducha, controlada por uma torneira, hahaha.....muito tri!! Como não há eletricidade em Polônio, quem quiser tomar banho de água quente, tem à disposição, sobre uma mesa, um fogãozinho de 2 bocas de modo a esquentar água. Fátima, cheia de mimimi, esquenta sua água, resmungando o tempo todo da precariedade do banheiro, hahaha....essa little monster na tpm é azucrinante! Por 30 pesos, um armazém, que conta com gerador de energia, carrega dispositivos eletrônicos. Assim, Ange e eu vamos até lá, deixando ela seu celular, eu, meu relógio Garmim, carregando até amanhã. Aproveitamos e compramos um Pinot Noir Sirah da Dom Pascual pra acompanhar a refeição. Willi prepara a janta, fazendo ele próprio a massa dos ravioles mais um pão. Servida em pratos fundos, a massa recheada com queijo e nozes e coberta por salsa rosada com pancetas é qualquer coisa de boa. O pão levemente adocicado revela-se providencial: ajuda a raspar o resto de molho do prato que se torna luzidio de tão limpinho. Comemos ao ar livre junto com o simpático casal Daniel e Isabel, pais de Tomas, além dos namorados Cassidy e Tomas, todos argentinos exceto Cass, americana, residindo em Buenos Aires onde trabalha ensinando inglês. Uma fogueira a 20 metros estala e suas chamas, além da lua já quase cheia, são a única iluminação na encantadora noite de Polonio!

Um comentário:

Unknown disse...

ahahah, que blz apreciar essa tua descrição dos pedais malucos que fazes pelaí, Bea !!! inda mais qdo se juntam as molecas para esticar as pernas por estradas afora... já tou sentido cheiro no ar de algo maior... carretera austral??? Chile??? pq não ??? abrassus. pétro