domingo, 10 de agosto de 2014

Casamento em Tinke

Mais bem disposta fico quando saio da barraca e constato a ausência de qualquer vestígio - sequer um fiapinho que seja de nuvem embaçando a face norte do Ausangate. De cara limpa, o céu está deslumbrante neste domingão ensolarado. Aqui em Upis, a visibilidade é maior que em Pacchanta já que se vê o maciço quase de cabo a rabo. Apenas duas encostas de montanhas, de baixa estatura, encobrem um tanto de seus flancos oeste e leste. Não consigo despregar os olhos deste colosso de rocha e neve. É hipnotizante. E a vontade de fotografá-lo e filmá-lo torna-se algo próximo à compulsão. A mesa do café, montada ao ar livre, diante da montanha, permite que possamos, bem refesteladas, apreciá-lo enquanto comemos nosso desaiuno. Tsk tsk tsk....chegou a hora do retorno à civilização....merda....o trek tá terminando....que droga! Não há outro jeito senão partir rumo a Tinke, local onde a caminhada iniciou há 6 dias atrás. E a saudade já se faz sentir. Partimos de Upis, dando as costas, infelizmente, ao Ausangate. Assim, cada vez que quero vê-lo, rodo nos calcanhares e lanço-lhe olhares compridos, pra tentar reter bem na lembrança a imagem desta paisagem que me é tão cara. À medida que avançamos, o Cayangate emerge, igualmente, magnífico, em meio ao capim dourado que reveste a ondulada superfície do pampa andino. E quanto mais nos acercamos de Tinke, melhor se percebe o contorno da cordilheira Vilcanota com seus cumes e encostas nevados. Após 2 horas de caminhada, entramos na estrada de chão batido. Uma pena que os impressionantes Cayangate e Ausangate continuem nos nossos costados. Portando nas cabeças as belas monteras e vestindo trajes típicos, quatro mulheres ultrapassam-nos com passo apurado. Daniel trata de acompanhá-las durante certo tempo enquanto a conversa se desenrola em meio a risadas femininas. Dirigem-se à feira que se realiza todos os domingos nos povoados e cidades peruanas. Na entrada da vila, celebra-se um casamento. A orquestra, que se organiza em frente à mesa onde estão os noivos, indica que vai rolar um baile. Uma pena que não possamos parar - mal tenho tempo pra fazer uns cliques e filmar - porque o veículo que nos levará de volta a Cusco sai às 13 horas e já são 12 e 30. Daniel conta que em seu casamento foram convidadas 800 pessoas!! “Gasté mucha plata”, acrescenta. Convida-nos, eu e Ju, pra conhecer a esposa que cuida da lanhouse, um dos negócios do casal, enquanto ele está viajando a serviço. O cara, bem empreendedor, não se limita apenas à profissão de guia. Atua em várias frentes. E pelo visto tem na mulher uma boa parceira. Conduz eu e Ju até o terraço de sua casa e faz questão que vistamos a saia e a montera pertencentes à sua mulher pra então fotografar nós as 2 devidamente paramentadas com as roupas regionais. Fofo demais esse Dani! Almoçamos no mercado de Tinke onde se vende de tudo: desde roupas que são feitas na hora a vegetais, bem como frutas, hortaliças, legumes, galinhas, cabritos, agulhas, remédios e mais não cito porque não teria espaço para descrever tanta diversidade de mercadorias expostas à venda. Deixo o pueblito com o coração apertado, emocionada com o carinho e dedicação demonstrados por Daniel. Inesquecível guia! Durante o retorno pra Cusco, passam por nós na direção contrária, carros e caminhões com as carrocerias apinhadas de gente, muitas delas em pé. Os veículos, enfeitados com balões coloridos, dirigem-se a Tinke pro casório. Deve ser uma festa de arromba. Pra me distrair durante as quase 3 horas de viagem ao longo da carretera Transoceânica, resolvo assuntar com Rosembert algo que vem chamando minha atenção desde que aqui cheguei. Os muros e paredes externas das casas exibem recente propaganda política. A minha dúvida é, caso ainda não tenham ocorrido, quando serão as eleições? Serão em outubro - como as nossas – com a finalidade de renovar o quadro de governantes e legisladores dos departamentos e províncias. Em chegando a Cusco, Ju se manda prumas comprinhas de última hora. Já eu vou ao mercado comprar vinho peruano e snacks de choclos, a pedido de meu filho. Dia seguinte, segunda-feira, quase perdemos o voo pra Lima porque o táxi contratado pra nos buscar no hotel simplesmente não apareceu! Embora curta a viagem, tivemos de esperar quase 8 horas na capital peruana, quando então às 23 e 30 embarcamos no avião que nos trouxe de volta a Porto onde chegamos na terça-feira às 6 da manhã! Essas conexões são de fudê!! Mesmo assim é bom demais viajar!

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